segunda-feira, 2 de julho de 2012

Dores da alma - Aprenda a reconhecer a diferença entre a tristeza e a depressão


Mais do que uma simples tristeza, a pessoa que sofre de depressão apresenta uma série de sintomas que resultam em uma total perda de interesse pela vida. Ela afeta o número impressionante de mais de 120 milhões de pessoas no mundo todo – 10 milhões só no Brasil, segundo o Ministério da Saúde (MS) – e é a maior causa de incapacidade, segundo informações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Por não ter origem infecciosa, não causar dor física ou mesmo morte, muitas pessoas ainda não vêem a depressão como uma doença grave.

Confundir tristeza com depressão é comum até para o próprio paciente, mas as características são bem diferentes. De acordo com o psiquiatra especialista em depressão pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) Antônio Egídio Nardi, "A tristeza é um sentimento humano normal que não compromete nosso raciocínio ou desempenho. Quando estamos tristes e recebemos uma boa notícia, melhoramos o nosso humor. A depressão é um transtorno do humor grave e frequente. A depressão pode se iniciar vagarosamente, assemelhando-se a uma tristeza mais intensa, acompanhada de vários outros sintomas, como desinteresse, alterações do apetite e do sono, dificuldade de concentração, entre outros".

Não é causada por nenhum vírus ou bactéria, não sangra, não dói, não é detectada por nenhum exame, mas nem por isso deixa de ser uma doença grave. "A depressão é uma doença porque o paciente apresenta um conjunto de sinais e sintomas associados temporalmente, com um curso previsível e sem qualquer tipo de controle voluntário. Estas alterações de humor podem ocorrer isoladamente, em sucessão, persistentemente, ou se apresentarem misturadas, causando as mais variadas flutuações do humor nos indivíduos. A depressão é uma condição exclusivamente humana e, por conseguinte, seu diagnóstico se faz baseado nas características clínicas que evidenciam as alterações no humor do indivíduo e que o levam a vivenciar mudanças qualitativas de suas funções afetivas, cognitivas e intelectivas", explica Antônio.

Apesar de ser cada vez mais comum, os fatores que desencadeiam a depressão não são. "As causas da maioria das doenças são desconhecidas. Existem muitas hipóteses, mas poucas certezas. Fatores genéticos, psicológicos, ambientais e bioquímicos estão envolvidos na sua gênese, mas estão presentes em graus diferentes em cada indivíduo com depressão. A discussão se a depressão é psicológica ou biológica é igual a questão se qualquer doença é biológica ou psicológica. Estamos certos que existem fatores biológicos e psicológicos em todas as doenças humanas. Em algumas, o fator biológico é determinante e os psicológicos consequência. A vida nunca é perfeita. Caso procuremos motivos, todos encontrarão razões suficientes para nos sentirmos tristes a qualquer hora", exemplifica.

E assim como grande parte das doenças, a depressão deve ser tratada com medicamentos específicos. "A medicina considera hoje uma imprudência tratar alguém com Depressão sem medicamentos. A utilização apenas de psicoterapia para Depressão moderada ou grave é um risco e caracteriza uma má prática médica. A psicoterapia pode piorar os sintomas de rejeição e culpa, agravar o quadro e aumentar a chance de suicídio. É indispensável esclarecer que os tratamentos farmacológicos não são opostos às diversas formas de psicoterapia. Ao contrário, os dois tratamentos são complementares. Os episódios depressivos, se não tratados corretamente, com psicofármacos e psicoterapia, causam um sério comprometimento em várias áreas da vida do paciente: o trabalho, a vida familiar e as atividades de lazer ficam negligenciados, e há um risco maior de morte por suicídio", afirma Antônio.

A depressão é, sim, uma doença. Segundo a OMS, quase 900 mil pessoas se matam todos os anos em decorrência da depressão e, ao contrário do que muitos pensam, ela é algo inteiramente diferente da tristeza e uma série de fatores pode diferenciar as duas condições. Veja a seguir os principais:

1. A pessoa triste reage a situações do ambiente. A depressão pode aparecer após uma situação desagradável de perda, ou mais comumente, sem qualquer justificativa. Entretanto, mesmo quando associada a um fator precipitante, o grau de tristeza na depressão é desproporcional e sua duração é prolongada.

2. Durante o período de tristeza nos alegramos com situações ou notícias positivas, o que não ocorre durante a depressão. Mesmo acontecimentos agradáveis são interpretados de forma negativa por portadores da doença.

3. A tristeza melhora com o tempo, em poucas horas ou dias. A depressão pode durar meses, anos ou uma vida inteira.

4. Facilmente podemos compreender alguém que está triste após uma perda. Não conseguimos é compreender que uma pessoa sem maiores problemas, às vezes até em situações invejadas, permaneça deprimida e sem esperança.

5. Não há ideia de suicídio na tristeza. A depressão pode ser letal. Aproximadamente 15% dos deprimidos graves se matam.

6. Podemos controlar nossa tristeza com um pouco de força de vontade. Quando nos sentimos tristes procuramos situações e companhias que nos alegrem. A depressão é mais forte que a vontade. Quando tentamos alegrar o paciente deprimido, levá-lo para locais de lazer ou insistir que ele se ajude, aumentamos sua irritação, seu mal-estar e ele não apresenta melhora dos sintomas.


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