terça-feira, 10 de julho de 2012

Hidrocefalia - Demência parecida com Parkinson e Alzheimer tem cura, porém, diagnóstico é o maior desafio


Perda de memória, dificuldade motora, perda do controle urinário. Esses parecem sintomas clássicos de demências muito mais comuns, como Parkinson e Alzheimer, não é mesmo?
No entanto, a hidrocefalia de pressão normal (HPN) é uma demência perigosa que, se não tratada, pode levar à morte. No entanto, uma boa notícia: a hidrocefalia é o único tipo de demência que, se vista a tempo, tem chance de cura total. O único problema é sua detecção pelo especialista e a falta de informação sobre a doença.

Apesar de são ser tão comum quanto o Alzheimer, a hidrocefalia de pressão normal (HPN) tem sua parcela de participação nas demências que acometem os brasileiros idosos. De acordo com o neurocirurgião e membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) e membro do Grupo de Hidrodinâmica Cerebral do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas Fernando Gomes Pinto, "Por definição, hidrocefalia é 'água na cabeça'. Ela é responsável por 5% dos casos de demência na terceira idade e é a única que, quando tratada, a pessoa volta ao normal. No entanto, ainda existem 60 mil pessoas potenciais portadoras de HPN que não sabem e não estão sendo tratadas".

Os sintomas da hidrocefalia devem ser observados de perto, pois se confundem com o de outras demências, como o Alzheimer e o Parkinson. "A 'água' que provoca a hidrocefalia é o líquor, líquido produzido na cavidade do cérebro, ou ventrículos, e reabsorvido por ele mesmo, e que tem a função de hidratar e proteger o cérebro contra choques. Se ele, por algum motivo, tem problema para ser reabsorvido, começa a se acumular e os sintomas aparecem. A pessoa não sente dor em nenhum momento, mas começa aos poucos a sofrer com alterações na memória, dificuldade de andar e perda no controle da urina", diz o neurologista.

Fernando ensina que muitos fatores podem ser a causa da falha na reabsorção do líquor. "A HPN pode ser de dois tipos: secundária ou idiopática. Na primeira, algum fator externo, como um acidente, meningite, tumor ou até uma cirurgia podem alterar o sistema de reabsorção do líquido. Na segunda, a idiopática, a causa é desconhecida. Por não identificarem nenhuma causa para os sintomas, algumas pessoas podem acabar sendo diagnosticadas com Alzheimer e serem tratadas de forma incorreta, enquanto a HPN tem tratamento e cura", argumenta.

O tratamento da HPN pode ser feito de várias formas, dependendo da gravidade do caso. "A doença é detectada a partir de exames de tomografia e ressonância magnética. Através deles, é possível ver um acúmulo do líquido maior do que o normal. Em alguns casos, coloca-se uma prótese de silicone por baixo do couro cabeludo que tira o excesso de líquido e o joga para a barriga do paciente, onde será absorvido. Em outros, pode-se fazer a neuroendoscopia, que corrige a origem do problema. Se o paciente for diagnosticado e tratado em até dois anos, a partir do início dos sintomas, é possível a reversão total dos sintomas. A partir disso, a taxa de sucesso diminui. O problema é o desafio de diagnosticar corretamente a HPN sem confundi-la com outras demências ou até com 'é normal ser assim nessa idade'", diz Fernando.

Muitos acham normal que uma pessoa que já passou dos 60, 65 anos de idade apresente perda de memória. No entanto, esse sintoma é um indicativo de doença neurológica e deve ser verificado por um especialista. "Qual o estereótipo de uma pessoa idosa? Que anda de bengala, esquece as coisas e precisa daquela fralda geriátrica pois não tem controle sobre a bexiga. No entanto, essa ideia é totalmente falsa. Quantas pessoas com demência não estão sendo tratadas por seus familiares acreditarem que isso é normal. Mas não é normal envelhecer assim", conclui Fernando.



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