sexta-feira, 3 de maio de 2013

Universidade para idosos tem 3,5 mil alunos em Frankfurt


Estudantes da terceira idade costumam frequentar aulas como ouvintes, mas em Frankfurt têm um espaço só para eles e, com oferta de cursos similar à das faculdades regulares, já são 3,5 mil alunos.

No auditório cheio, saltam aos olhos os muitos cabelos grisalhos, óculos nos rostos e uma ou outra careca. Nada surpreendente, já que os estudantes, nesse caso, têm todos mais de 60 anos.
Enquanto o professor fala, eles não ficam cochichando uns com os outros ou digitando nos celulares. Pelo contrário, concentrados, ouvem e fazem anotações sobre o tema da aula – a história do surgimento da filosofia ocidental.

Hartmut Bratz frequenta regularmente, há mais de dez anos, as aulas da Universidade de Frankfurt para a Terceira Idade (U3L). “Interesso-me, desde que me aposentei, por aulas expositivas, principalmente sobre literatura e Antiguidade”, diz o advogado de 74 anos, ex-funcionário de um banco.
Quando ainda exercia a profissão, Bratz tinha pouco tempo para as artes.
O mesmo acontece com outros colegas deles. Quando mais velhos, eles conseguem, enfim, se dedicar a assuntos que sempre lhes interessaram, mas para os quais tinham pouco ou nenhum tempo antes.

Departamento próprio
Na Alemanha, não há, porém, um modelo unificado de graduação para idosos. O termo “estudo na terceira idade” cobre diversos tipos de atividades acadêmicas voltadas para os mais velhos nas universidades do país. Normalmente, os estudantes da terceira idade costumam frequentar aulas como ouvintes, ao lado dos jovens.

Para ser ouvinte de uma universidade alemã, é preciso pagar uma taxa de aproximadamente 100 euros por semestre, o que inclui a permissão para frequentar diversas aulas expositivas. Não é necessário nem ao menos provar a conclusão da vertente do ensino alemã que habilita o ingresso numa universidade, pois normalmente o ouvinte não é submetido a qualquer tipo de avaliação.

A ideia de estudos universitários voltados para os mais velhos surgiu na Alemanha há cerca de 30 anos, diz Silvia Dabo-Cruz, diretora da Universidade de Frankfurt para a Terceira Idade.

“Naquela época, existiu um movimento rumo à abertura das universidades para adultos em idade mais avançada. E nós fomos uma das primeiras universidades a participar”, afirma.
Mas a Universidade Johann Wolfgang Goethe, de Frankfurt, oferece as graduações para idosos de maneira distinta de outras escolas superiores na Alemanha, pois ali os estudantes idosos dispõem de um departamento próprio.

A U3L é organizada como uma associação, quase como uma universidade dentro da universidade. Os professores de outros departamentos dão ali suas palestras, e as ofertas são tão diversas quanto o leque de cadeiras da universidade regular.

Variedade
Num semestre, há até 120 eventos voltados para a terceira idade, que vão desde temas ligados à arqueologia, passando por anatomia clínica, até história da ciência. As aulas só podem ser frequentadas por idosos, cujas atividades são completamente separadas das dos jovens.

Isso não funcionou, contudo, desde o início. No princípio, a Universidade de Frankfurt havia criado uma forma mista: os idosos podiam frequentar as aulas regulares dos diversos departamentos, embora já pudessem recorrer a determinadas atividades voltadas apenas para eles.
Mas a partir de 2005 foi introduzida na Universidade de Frankfurt essa especificidade, através da qual os idosos só podem frequentar aulas voltadas para eles. A direção da universidade quis dividir seus frequentadores entre grupos de jovens e idosos, a fim de controlar a grande demanda. Hoje em dia, há na Universidade de Frankfurt um total de 3.500 estudantes da terceira idade.


Críticas
A diretora Silvia Dabo-Cruz não vê, contudo, apenas aspectos positivos nessa segregação. Segundo ela, muitos professores reclamaram do fato de os mais velhos terem deixado de frequentar as aulas ao lado dos jovens.
“Quando uma pessoa mais velha, que morou anos na África, por exemplo, frequenta aulas de Filologia Africana, sua presença só traz benefícios”, analisa.

Uma crítica frequente às graduações de idosos é que eles poderiam estar tirando lugares nas universidades dos jovens. Entre os estudantes regulares da Universidade de Frankfurt, as opiniões se dividem, mas há os que acreditam nas vantagens da companhia dos idosos.
“Para nós, estudantes, a troca com os mais velhos pode ser interessante, pois eles têm mais experiência de vida e podem abrir perspectivas para nós”, diz uma estudante de Filologia Germânica.
Por outro lado, não é todo estudante da terceira idade que quer se misturar com a população jovem de um campus. Muitos deles preferem ficar entre si, como é o caso de Brigitte Remi, de 67 anos: “Acho agradável frequentar a U3L, porque não fico com a impressão de estar tirando lugar dos jovens. Aqui me sinto realmente bem”.


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