segunda-feira, 27 de maio de 2013

Homens viúvos têm dor diferente, mas não mais branda

Em 1990, Sam e Gretchen Feldman se aposentaram e foram para a ilha de Martha’s Vineyard, Massachusetts. Lá, eles dedicaram seu tempo a trabalhos voluntários e um ativo calendário social. Os anos seguintes foram muito bons para os Feldman, mas, em 2007, Gretchen descobriu que tinha câncer. Ela morreu um ano mais tarde.

Os Feldman haviam sido casados por 53 anos e a dor de Sam Feldman era palpável para amigos que conheciam sua personalidade alegre e jovial. “Havia um enorme buraco em minha vida, que nenhuma quantia de atividades poderia preencher”, disse Feldman, hoje com 82 anos. “Exceto por minhas duas filhas, não havia ninguém em quem eu pudesse procurar consolo”.
Havia um grupo local de apoio, mas Feldman desistiu de participar quando descobriu consistir apenas de mulheres. “Eu simplesmente não achava que mulheres entenderiam minha dor”, afirmou ele. “E, francamente, venho de uma geração que se sente desconfortável expondo tristeza e vulnerabilidade ao sexo oposto”.

A perda de uma pessoa amada é uma experiência profundamente desoladora, mas não é igual para todos. Pesquisas sugerem cada vez mais que homens e mulheres sentem o pesar de formas diferentes, e essa percepção reforçou um nascente movimento de grupos de apoio voltado a homens.

A preocupação em lidar com o sofrimento masculino ganhou nova urgência com as mudanças demográficas. O número de homens com mais de 65 anos nos EUA aumentou 21% de 2000 a 2010, quase duas vezes o crescimento de 11,2% para as mulheres nessa faixa etária, segundo números do censo. Conforme se estreita a lacuna na expectativa de vida, especialistas sugerem que mais homens deverão enfrentar a perda de entes queridos, especialmente esposas.

Muitos não estarão preparados para a experiência. A perda de um cônjuge, para os homens, costuma ser devastadora tanto física quanto psicologicamente.
Num artigo de 2001 publicado em ‘The Review of General Psychology’, psicólogos da Universidade de Utrecht, na Holanda, confirmaram que viúvos mostram maior incidência de doenças físicas e mentais, deficiências, morte e suicídio do que viúvas. Enquanto mulheres que perderam o marido frequentemente dizem se sentir abandonadas, os viúvos tendem a experimentar a perda “como um desmembramento, como se eles houvessem perdido algo que os mantinha inteiros e organizados”, disse por e-mail Michael Caserta, diretor do Centro de Envelhecimento Saudável na Universidade de Utah.

O Harvard Bereavement Study, um marco na pesquisa sobre a perda de parceiros na década de 1960, descobriu que os viúvos atravessavam a morte da esposa como uma tragédia multifacetada, uma perda de proteção, apoio e consolo que deixava muitos deles à deriva. Os pesquisadores apontaram que os homens do estudo dependiam profundamente de suas esposas para cuidar de suas vidas domésticas, de tarefas caseiras à criação dos filhos.
Segundo Caserta, a dor dos homens é agravada pelo fato de muitos terem sido relutantes em expressar sentimentos reais de profunda tristeza; até recentemente, esperava-se que os homens fossem emocionalmente controlados e inexpressivos. Simplesmente persuadir esses homens durões a frequentarem um grupo de apoio não é tarefa simples.
“Embora existam fortes indicações de que a terapia de apoio ajuda os homens, historicamente eles não costumam participar”, explicou Phyllis Silverman, pesquisadora do luto e autora de ‘Widower: When Men Are Left Alone’ (‘Viúvos: quando homens são deixados sozinhos’, em tradução livre).

Há também diferenças na duração do luto masculino em comparação com as mulheres, e quanto tempo leva para eles superarem. O velho axioma de que “mulheres choram e homens substituem” se mostra incorreto.
“Costumava-se pensar que os homens sofrem muito e se curam com maior rapidez, e que as mulheres sofrem cronicamente por um período mais longo”, afirmou George A. Bonanno, professor de psicologia clínica da Universidade de Columbia, em Nova York. Mas hoje, segundo Bonanno, muitos pesquisadores acreditam que o pesar segue um padrão muito mais complexo – tanto em homens quando em mulheres.
“Independentemente do sexo, nós oscilamos entre emoções positivas e negativas, entre ondas de tristeza pela perda e esperança no futuro”, diz. “Isso pode ser frustrante para os homens, que costumam buscar uma abordagem de ‘rápida solução”’.

Em alguns casos, o que os homens fazem é tomar o aconselhamento de luto em suas próprias mãos. Feldman entrou num grupo de apoio para viúvos quinzenal, em Martha’s Vineyard, e há dois anos liderou a Men’s Bereavement Network, organização sem fins lucrativos buscando estabelecer e ajudar grupos de apoio para homens em todo o país. A rede está ajudando a montar grupos de apoio masculinos em locais tão diversos quanto DePere, no Wisconsin, Clearwater, na Flórida, e Danvers, em Massachusetts.

Num recente encontro do grupo de Martha’s Vineyard, iniciado por Feldman, oito homens – com idades entre 40 e 80 anos – se reuniram na casa do líder da sessão, Foster Greene. O Dr. George Cohn, psiquiatra local, sentou-se ao lado – basicamente como um observador silencioso.

Um pescador aposentado, com 85 anos e um dos membros mais velhos do grupo, falou em voz baixa, encarando uma xícara de café. Sua esposa morreu em 2010, após 54 anos de casados. “Não sei quanto a vocês”, declarou ele, olhando rapidamente para os homens na mesa, “mas para mim fica cada vez mais difícil, e não mais fácil”. Os outros homens assentiram.
Mais tarde, Cohn disse: “Às vezes, isso é tudo que um homem quer ou precisa – um ouvido que compreende”.


Nenhum comentário:

Postar um comentário