quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

HIV na Terceira Idade

Na sociedade ocidental, existem muitos mitos em relação ao envelhecimento.
Pessoas mais velhas geralmente são vistas como improdutivas e assexuadas, tabus que aos poucos vão caindo por terra. Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, em 2002, revelou que 39% das pessoas acima de 60 anos – fase em que se inicia a terceira idade, segundo a Organização Mundial de Saúde – são sexualmente ativas. Paralelo a isso, a cada ano cresce o número de soropositivos nesta faixa etária.

A médica Valéria Ribeiro Filho, do Departamento de Doenças Infecto Contagiosas e Parasitárias do Hospital Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que o prolongamento da atividade sexual seja o fator determinante para a evolução da epidemia na terceira idade. Entretanto, ela acha que ainda é cedo para associar o aumento de casos de aids entre esse grupo à utilização de drogas para disfunção erétil: “a partir dos quarentas anos já se percebe o interesse cada vez maior por esses medicamentos. Entretanto, não existem dados concretos que reforcem a teoria que o aumento dos casos de aids nesta faixa etária está relacionado a essas drogas. Como a notificação demora a ser feita, só daqui a alguns anos poderemos fazer essa avaliação”. A psicóloga Marlene Zornetta, também do hospital da UFRJ, acrescenta outro aspecto importante: “Pessoas com mais de 60 anos não foram criadas com a cultura do uso da camisinha. Normal para jovens de vinte e poucos anos, o preservativo não faz parte da rotina das pessoas mais velhas”.


Número de mulheres infectadas com mais de 50 anos sobe 396%

Apesar do número de casos confirmados de aids, entre 1993 a 2003, ter subido 130% entre os homens e 396% entre as mulheres com mais de 50 anos, até hoje não foram criadas campanhas publicitárias específicas para esse público.
Na Câmara de Deputados em Brasília, está em tramitação um Projeto de Lei, do deputado Carlos Nader (PL-RJ), propondo uma campanha permanente e obrigatória de prevenção à aids para pessoas da terceira idade, circulando, no mínimo, duas vezes por ano na mídia impressa e eletrônica. A proposta sugere que as mensagens publicitárias tenham como enfoque a prevenção, como o uso de preservativos.


Doenças podem se agravar com o uso dos anti-retrovirais

Embora os procedimentos para o tratamento de pessoas vivendo com a AIDS com mais de 60 anos sejam os mesmos previstos no Consenso Brasileiro do Ministério da Saúde para adultos, percebe-se que algumas doenças comuns à Terceira Idade podem se tornar mais graves com o uso freqüente dos anti-retrovirais. A médica Valéria Ribeiro Filho explica que há uma tendência de maior fragilidade do sistema imunológico nesta faixa etária. Segundo ela, “são pessoas mais sujeitas a pneumonias e gripes, tanto que tomam vacinas para se prevenir. Doenças como a osteoporose, por exemplo, costumam se intensificar com o uso de anti-retrovirais, o que torna necessário um reforço de cálcio para esses pacientes”.
No caso das mulheres, observa-se que a menopausa é mais precoce, mas a médica do hospital da UFRJ ressalta que faltam pesquisas para confirmar cientificamente essa hipótese. A psicóloga Marlene Zornetta, que está estudando o comportamento de pacientes da Terceira Idade infectados pelo HIV, observa que essas pessoas, em alguns momentos, apresentam características semelhantes aos adolescentes: “Eles são preconceituosos e temerosos em revelar sua condição de soropositivos para o HIV, dificultando o trabalho psicológico em grupo”. Quanto à adesão ao tratamento, tanto Dra.Marlene quanto Dra.Valéria afirmam que a disciplina com os anti-retrovirais é uma característica pessoal e não varia conforme a faixa etária: “A adesão ao tratamento está relacionada a diversos fatores individuais, e não à faixa etária. Essa atitude positiva ao tratamento é uma decisão de cada paciente”, destaca a psicóloga.



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