quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Proposta Fisioterapêutica para cuidadores de portadores da doença de Alzheimer

Esta proposta é baseada em  todos os manuais encontrados e  tem como objetivo melhorar a qualidade de vida do portador da doença de Alzheimer (DA).

Atividades de vida diária (AVDs)

Higiene pessoal
O banho pode causar estresse e medo num idoso portador de DA. Ele pode apresentar resistência ou esquecer-se de tomar banho ou de como fazê-lo.

Sugestões para o cuidador:
• Sempre manter uma rotina: o banho deve ter sempre um horário pré-determinado (manhã, tarde ou noite) para que o idoso adquira um hábito ;
• Antes do banho, o cuidador deve preparar todos os objetos necessários  para  que  não  tenha  que  interromper  o  banho, deixando o idoso sozinho ou confuso ;
• Sempre controlar a temperatura da água do banho por causa da perda de sensibilidade e da alteração cognitiva ;
• Durante o banho, o cuidador deve  inspecionar a pele do idoso à procura de lesões que possam estar escondidas;
• Não esquecer da higiene oral, que deve ser feita sempre depois das refeições com escova de dentes macia, e quando não for possível o uso da escova, usar uma espátula de madeira envolta com gase. As próteses dentárias devem  ser higienizadas depois das refeições e não esquecer da higiene da cavidade oral;
• As unhas devem ser cortadas regularmente;
• Os cabelos devem ser lavados e cortados regularmente e o mesmo deve ser observado com relação à barba;
• Tornar o banheiro seguro com o uso de barras, tapetes antiderrapantes e cadeiras de banho ;
• Deve-se deixar o  idoso realizar a tarefa com o máximo de independência possível. Se necessário, o cuidador pode dar o comando verbal de forma clara e pausada como “agora vamos tirar a blusa”, “passe o sabonete nos pés” e elogiar quando a tarefa for realizada de forma adequada. Da mesma forma, devem ser feitas as atividades de enxugar-se e de vestir-se novamente.
• Para os idosos que adoram tomar banho, esta atividade pode ser um recurso para acalmar o idoso quando este se encontrar muito  agitado. Quando  o  idoso  ainda  apresentar  resistência quanto a tomar banho, deve-se evitar confrontos e discussões e, se necessário, procurar ajuda especializada com enfermagem.

Vestuário
Os  portadores  de DA  esquecem-se  de  como  vestir-se,  não sabendo colocar  roupas adequadas e a ordem de colocação das peças.

Sugestões para o cuidador:
• Evitar roupas com muitos botões, cintos e fivelas, pois esses acessórios podem atrapalhar  tanto o doente como o cuidador. O melhor é utilizar velcros, elásticos e roupas com fecho na parte da frente;
• Evitar sapatos com cadarços e chinelos e dar preferência a sapatos com solas antiderrapantes;
• Ter modelos  iguais  de  determinadas  roupas  que  o  idoso prefere vestir;
• Colocar as peças em ordem de colocação e sempre dar o comando verbal de forma clara e pausada e deixar que o idoso realize a atividade do modo mais independente possível;
• Acompanhar o  idoso enquanto ele se veste e não oferecer muitas opções de roupas;
• Os  agasalhos devem ficar  sob  responsabilidade do  cuidador, pois o portador perde a capacidade de perceber o frio ou o calor;
• Enquanto  o doente  estiver  se  vestindo,  sempre utilizar  a cama ou uma cadeira segura para evitar quedas.

Incontinência urinária e fecal
Na fase mais avançada da DA ocorre a incontinência urinária e fecal. A incontinência urinária é mais comum e pode ocorrer no início da doença, enquanto a incontinência fecal só ocorre em fases mais avançadas. Na DA o idoso pode perder a capacidade de perceber quando precisa  ir ao banheiro, não saber onde fica o banheiro e do que fazer ao ir ao mesmo.

Sugestões para o cuidador:
• Não causar constrangimento ao idoso quando ele apresentar algum episódio de incontinência ;
• Organizar os horários para as idas ao banheiro, observando os horários das eliminações e levar o idoso ao banheiro com intervalos regulares, assim criando um hábito ;
• Vestir o idoso com roupas fáceis para serem tiradas, como calças com fecho de velcro;
• Colocar setas na casa com indicativo de onde é o banheiro e na porta do banheiro colocar um cartaz informativo;
• Durante a noite, deixar a luz acesa tanto do banheiro como do caminho a  ser percorrido para  ir até o banheiro e,  se o idoso apresentar perdas durante a noite, utilizar  fraldas geriátricas;
• Não  restringir  a  ingestão  de  líquidos    que  isso  poderá causar desidratação;
• Colocar barras de segurança próximas ao vaso sanitário;
  Se, mesmo  com  todas  essas medidas,  o  idoso  continuar apresentando perdas urinária ou fecal, fazer o uso de fraldas geriátricas durante o dia todo ou então de sondas;
• Evitar que o  idoso permaneça com  fraldas molhadas por muito tempo e a cada troca higienizá-lo adequadamente com água e sabonete neutro;
• A agitação do idoso pode signiicar que ele quer urinar ou evacuar ou então que a fralda está suja.

Cuidados com pacientes acamados
Com a continuidade da doença, o idoso passa a ficar restrito à cadeira de rodas ou acamado e isso traz complicações tais como escaras de decúbito e hipotermia quando estiver muito frio, o que causa desconforto e agitação. Devemos lembrar que a profilaxia para o aparecimento de escaras de decúbito é a mobilização.

Sugestões para o cuidador:
• Deve-se fazer uma higiene adequada do idoso no leito;
• Não deixar vincos nos  lençóis do paciente para evitar escaras;
• Realizar mobilização do paciente no leito, mudá-lo de decúbito de duas em duas horas (alternar decúbito lateral, dorsal, cadeira de rodas e poltrona), fazendo com que o paciente não permaneça no  leito durante  todo o  tempo,  levando-o, por exemplo, para tomar banho no chuveiro ou tomar banho de sol;
• Utilizar  colchão de  ar  com pressões  alternadas  e,  se não for  possível, utilizar  luvas  com  ar nas  proeminências  ósseas;
  Se  o  idoso  alimenta-se  na  cama,  levantar  a  cabeceira  e, depois das  refeições  observar  se há  resíduos de  comida no leito;
• Manter sempre a pele do doente hidratada;
• Observar qualquer tipo de lesão na pele para que elas possam ser tratadas adequadamente evitando o aparecimento de escaras .

Se o idoso já apresentar escaras:
• A alimentação deve ser rica em proteínas e vitaminas;
• Deve-se procurar orientação médica para o uso de medicamentos locais, antibióticos e tratamento das doenças associadas;
• Raios ultravioletas – os raios solares são eficazes para o tratamento de escaras, então deve-se expor o local da escara ao sol logo pela manhã.

Atividades de vida prática – AVPs

A  realização de atividades que o portador  sempre costumava  fazer  pode melhorar  a  auto-estima  e  assim  a  qualidade  de  vida. Deve-se  ajudar  o  portador  a manter  as habilidades  pessoais,  ou  seja,  uma  idosa  que  sempre  foi dona de casa pode usar algumas habilidades desse serviço, como auxiliar na limpeza da casa ou cozinhar com supervisão.
 
Também deve-se lembrar que a DA é uma doença progressiva e que com o passar do tempo as preferências e habilidades do portador poderão mudar.

Sugestões para o cuidador:
• Atividades que possam trazer risco ao doente, como dirigir ou controlar as finanças, devem ser restringidas quando necessário;
• Se o idoso gosta de cozinhar, ele sempre deve ter supervisão do cuidador, pois o idoso pode não se lembrar de como manipular eletrodomésticos com segurança. Deve-se evitar o uso de batedeiras (estimulando a bater o bolo com a mão), a aproximação à panelas contendo alimentos quentes ou mexer no fogão sem auxílio e supervisão;
  Evitar  atividades  com  objetos  perigosos  como martelos, pregos, facas, etc.;
• Algumas sugestões de atividades indicadas para portadores de DA que são de fácil realização e faz com que o idoso perceba que está realizando uma tarefa útil: artesanato, cuidar de jardins, ajudar a cuidar da casa.

Proposta fisioterapêutica de um programa terapêutico domiciliar

O programa  terapêutico  domiciliar  se trata de uma extensão do tratamento fisioterapêutico.
Será enfocada a qualidade de vida tanto do portador como do  cuidador pois trabalha a independência do doente e complicações como perda de força muscular, dores devido a encurtamentos, imobilidade e deformidades, aparecimentos de escaras, etc.
Caso o idoso se recuse a realizar a atividade proposta,  não  insistir  e  deixar  para mais  tarde,  evitando discussões.

Caminhada e dança
Deve-se incluir a dança e a prática de caminhada no programa domiciliar, visando à melhora da mobilidade, do equilíbrio, da socialização, da manutenção da força muscular e do estado emocional do paciente.

Exercícios de alongamento
Alongamento é uma manobra terapêutica que visa aumentar o comprimento de tecidos moles a fim de melhorar a flexibilidade da articulação.
• Alongamento da musculatura cervical  (flexão, extensão e inclinação);
• Alongamento dos membros superiores (extensores, adutores, abdutores do ombro, músculos peitorais e de flexores e extensores do cotovelo);
•  Alongamento  do  tronco (flexão,  extensão  e rotação);
• Alongamento dos membros inferiores (glúteo máximo, isquiotibiais, reto femoral, adutores, abdutores, flexores plantares e dorsilexores).

É importante lembrar que o paciente não deve sentir dor.
 
Os exercícios para mobilidade descritos a seguir podem ser realizados de forma ativa quando o paciente consegue realizá-los sozinho, assistido quando o paciente necessitar de algum auxílio ou passivo quando o paciente  já não for capaz de realizar o movimento.

Mobilização articular
A mobilização  das  articulações melhora  a  rigidez  e  a  dor por isso ela é muito importante para o portador de DA, já que mantém a amplitude de movimento, o que facilita a realização de atividades de vida diária e de transferências.

• Flexão, extensão rotação e inclinação da cervical;
• Mobilização escapular  (elevação, depressão, adução e abdução);
• Flexão, extensão, adução e abdução de ombro;
• Flexão e extensão de cotovelos, punhos e dedos;
• Flexão, extensão e rotação de tronco;
• Flexão e extensão de quadril e joelho simultaneamente associando a adução e abdução de quadril;
• Flexão plantar e dorsiflexão;
• Exercício de ponte.

A seguir serão descritas formas de auxiliar ou até mesmo de realizar a transferência do paciente. Deve-se dar o auxílio suficiente para que o paciente consiga se transferir quando ele ainda o consegue, e quando ele não for capaz a transferência deve ser realizada pelo cuidador.

• Decúbito  dorsal  para  lateral:  o  paciente  deve  flexionar o membro  inferior  do  lado  oposto  ao  lado  que  irá  deitar e com ajuda do membro superior também oposto fará adução virar para o  lado. Se o paciente não for capaz, o cuidador deve usar de pontos-chave como o quadril e ombro. Para voltar ao decúbito dorsal, realizar a extensão dos membros inferiores e rodar o tronco.
• Decúbito  lateral para  sentado:  colocar  os membros  inferiores para fora da cama e com auxílio do membro superior que está em baixo elevar o tronco para sentar. Para voltar ao decúbito lateral apoiar o membro superior o qual se deitará em cima e conforme o tronco se aproximar da cama colocar os membros  inferiores  sobre a cama. Se o paciente não  for capaz, a seqüência é a mesma, mas o cuidador é que deverá elevar ou deitar o tronco e colocar ou tirar os membros inferiores da cama.
• Sentado para em pé: quando o paciente não consegue levantar sozinho, pedir para que o paciente apóie suas mãos no ombro do cuidador, levar o tronco do idoso bem à frente, pedindo para que ele estenda seus membros inferiores. Daí o paciente pode ser transferido para a cama, cadeira, etc.  com passos  com  auxílio do  cuidador. Se o paciente  já não for capaz de ficar em pé, a transferência deve ser feita por dois cuidadores, um apoiando os membros inferiores sob os joelhos e outro apoiando o tronco sob as axilas e segurando os membros superiores do paciente.

Considerações finais

Com o avanço da doença, o paciente não conseguirá realizar todas as atividades descritas acima, então deve-se agir com bom  senso e    solicitar as atividades que o paciente ainda conseguir, para que não ocorram desentendimentos e principalmente para não afetar a auto-estima do paciente.

Extraído de: MELO, M.A.; DRIUSSO, P. Proposta Fisioterapêutica para os cuidados de Portadores da Doença de Alzheimer. Envelhecimento e Saúde, v. 12, n.4, 2006.

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