segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Maturidade sexual: Entenda o sexo na terceira idade

A vivência da sexualidade com a diminuição da produção hormonal na mulher climatérica - fase da vida em que ocorre a transição do período reprodutivo ou fértil para o não reprodutivo, devido à diminuição dos hormônios sexuais produzidos pelos ovários - traduz a continuidade de um processo iniciado na infância e que culmina com a menopausa.

São as alegrias, culpas, vergonhas e repressões somadas às modificações fisiológicas e anatômicas que a idade impõe que irão determinar a conduta sexual na maturidade da vida.
Os sentidos responsáveis pela eroticidade, alheios a normas sociais, continuam a se manifestar, porém algumas mulheres passam a inibir toda e qualquer possibilidade de emoção sexual, podendo muitas vezes o desejo ser vivenciado com culpa, quando na verdade o simples fato de poder fazer sexo produz aumento da autoestima, além de retardar o envelhecimento de alguns órgãos do corpo humano.

O pico de responsividade sexual ocorre nos homens aos 18 anos, devido à plenitude hormonal máxima, e entre as mulheres aos 35 anos de idade, quando então já conhecem o próprio corpo, ocasião em que estão mais seguras sexualmente. Com o amadurecimento orgânico de ambos os sexos, a resposta fisiológica à excitação tende a se tornar mais lenta com o passar dos anos, dificultando a quem só conhece o sexo genitalizado, sem preâmbulos para uma vivência sexual mais saudável e sem exigências. Na maturidade, a conduta sexual está alterada por diversos fatores, e a ambos os sexos vêm fugindo-lhes as funções para as quais foram treinados: reprodução e virilidade. Se restritos à penetração, provavelmente haverá poucas chances de prazer.

A UNESCO aponta que em 2050 uma de cada cinco pessoas será idosa, e a sociedade evita enxergar como semelhante o idoso, não lhe sendo permitido exibir amor, ciúme, aptidão sexual e desejo. Saúde é a situação de bem-estar biopsicossexual, e não somente ausência de doenças. Se considerarmos climatério uma síndrome (conjunto de sinais e sintomas que caracterizam uma doença), não se pode negar que todas as mulheres são ou serão um dia doentes, o que seria um absurdo. Como doença é uma alteração orgânica que foge à norma, seria um contrassenso explicar climatério como um distúrbio de saúde. Mitos, tabus e variáveis individuais influem nesse portal de passagem que já foi associado à perda da identidade feminina.

A menopausa é um processo de transição que causa desorganização temporária de referenciais, com perdas e ganhos. Os impactos adequadamente aceitos e incorporados implicam no amadurecimento para a continuidade de uma vida sexual adaptada a novos padrões. No climatério normalmente o foco genital diminui, e valores como aspectos da vida, relações sociais, familiares e conjugais influem de maneira considerável.
É um período de maior vulnerabilidade para a exacerbação de transtornos psiquiátricos, particularmente quando existe histórico de quadros depressivos (quatro vezes maior nas mulheres do que em homens na terceira idade) e em mulheres com histórico de ciclos irregulares. A irregularidade hormonal apresentada durante o período do ciclo reprodutivo funcionaria como um gatilho na menopausa, agindo no sistema nervoso central – o maior órgão-alvo dos hormônios que modulam o comportamento.

Os níveis hormonais menores, concomitantes a medicamentos, tabagismo, sedentarismo e alimentação inadequada, podem reduzir o fluxo sanguíneo na pelve, diminuindo o estímulo venoso na fase de desejo, porém estudos demonstram que pacientes na faixa dos 60 e dos 70 anos sem uso de terapia de reposição hormonal, porém sexualmente ativas, apresentavam taxas hormonais maiores que aquelas sexualmente inativas.

A longevidade alcançada nas últimas décadas torna o sexo possível após a terceira idade e o erotismo torna mais lentas as modificações de envelhecimento do organismo, estimulando a criatividade intelectual e melhorando a autoestima, diminuindo depressões pelo aumento das serotoninas. Os transtornos do desejo sexual são fenômenos clínicos reais, constituindo essas síndromes entidades patológicas reais entre os idosos, pois adquirem importância devido à maior expectativa de vida. Além disso, a velhice está sendo redefinida em termos mais positivos, resultando na reivindicação de uma boa saúde sexual.

Paradoxalmente algumas drogas que permitem uma sobrevida melhor têm efeito devastador na libido, porém essas questões estão sendo equilibradas com uma melhor abordagem médica na terapia sexual e nos exames periódicos de controle hormonal.

Conclusão
A capacidade e o desempenho sexual na terceira idade são resultantes dos aspectos biopsicossociais da vida pregressa de cada indivíduo. Geralmente a intensidade da reação fisiológica e a duração da resposta anatômica ao estímulo sexual são reduzidas em todas as fases do ciclo sexual, porém, apesar de todas as mudanças involucionais nos órgãos reprodutivos e de todas as influências negativas do ponto de vista sociocultural, a resposta orgástica pode ser satisfatória, principalmente quando exposta regularmente a estímulo erótico.


Dr. Amaury Mendes Junior é médico ginecologista, sexólogo e possui pós-graduação em terapia sexual.

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