Quem
não cultiva a amizade, abre espaço para a solidão
O
sentimento é nobre e já inspirou poetas, filósofos e escritores. Tida já pelos
gregos antigos como a forma mais sublime do amor, a amizade passou a
interessar, mais recentemente, também aos cientistas. Aumenta o coro dos que
acreditam que trata-se de algo verdadeiramente especial e que um amigo pode
fazer a diferença no mundo. Sem contar os benefícios para a saúde.
Quem
não cultiva a amizade e a fraternidade cede a vez para o seu reverso, que é a
solidão. E é preciso, antes de tudo, preparar o espaço e o espírito. "Não
pode haver amizade onde há desconfiança, deslealdade, injustiça. Entre os maus,
quando se reúnem, é um complô e não companhia. Eles não se entretém. Não são
amigos mas cúmplices", pregava Étienne de La Boàtie, no século XVI, em seu
Discurso da Servidão Voluntária.
Sócrates, um dos mais expressivos filósofos gregos, declara no Lísis, de Platão, que em toda a sua vida, sempre teve um ardente desejo de amizade, mais que qualquer outra coisa no mundo. Talvez lá, já vislumbrasse o que os cientistas constatam agora. A tese de que ter bons amigos pode prolongar a vida.
Sócrates, um dos mais expressivos filósofos gregos, declara no Lísis, de Platão, que em toda a sua vida, sempre teve um ardente desejo de amizade, mais que qualquer outra coisa no mundo. Talvez lá, já vislumbrasse o que os cientistas constatam agora. A tese de que ter bons amigos pode prolongar a vida.
Para
avaliar os fatores sociais, físicos e psicológicos que afetam a longevidade, o
Estudo Longitudinal do Envelhecimento na Austrália - ALSA, em inglês -,
acompanhou, desde 1992, cerca de 1,5 mil pessoas com mais de 70 anos em
Adelaide.
Trata-se
de uma das mais longas pesquisas já realizadas. No decorrer dos anos, os
participantes responderam a questões sobre o tempo que passavam com filhos,
netos e parentes, o número de amigos e o tipo de atividade social que exerciam.
No final, as estatísticas apontaram que os que dispunham de uma rede de amigos
mais firme sobreviveram mais.
Como uma das principais características da amizade á que se trata de uma escolha voluntária, o que elimina a obrigatoriedade do encontro, fortalecer os laços é uma via para uma existência mais solidária. E a amizade, constatam as pesquisas, ajuda não apenas a viver mais, como a viver melhor. Quanto mais amigos, mais chances de chegarmos à velhice sem problemas físicos e com maior capacidade de adaptação e aceitação das dificuldades inerentes ao envelhecer. Do contrário, pessoas que não tem amigos, são mais vulneráveis a doenças.
Para o gerontólogo João Batista Alves de Oliveira, ter o bom amigo não significa, no entanto, esquecer de si mesmo. "É preciso buscar um significado para a própria vida e a partir daí, reconhecendo seus valores pessoais, buscar o que há em volta. Deve haver uma busca ativa. Aceitar a solidão ou esperar que os outros a resolvam é negar o valor de si mesmo", afirma.
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