terça-feira, 13 de novembro de 2012

A língua do Alzheimer


Estudo canadense sugere que falar duas línguas pode atrasar o surgimento da doença

Do you speak English? ¿Hablas español? Seja para ajudar um estrangeiro na rua dando informações ou até mesmo para fazer compras em um site lá de fora, falar uma segunda língua também é importante para a saúde.
Pesquisadores canadenses descobriram um importante benefício do bilinguismo: retardar o aparecimento dos sintomas do Alzheimer, doença neurodegenerativa mais comum do mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O estudo, publicado na revista "Trends in Cognitive Sciences", mostra que pessoas fluentes em duas línguas têm menos chances de manifestarem os sintomas de diversas demências quando forem mais velhas, inclusive o Alzheimer. Segundo o estudo, apesar de não ter um efeito tão perceptível na idade adulta, o bilinguismo ajuda a proteger o cérebro contra o declínio cognitivo quando em idade avançada. Conforme a população mundial se torna cada vez mais diversificada, o papel do bilinguismo é cada vez mais importante.

Os pesquisadores chamam essa capacidade de retardar as doenças neurodegenerativas que o aprendizado de outra língua tem de "reserva cognitiva" (RC). De acordo com o neurologista Andre Gustavo Lima, "RC é a capacidade do cérebro de armazenar por períodos prolongados as habilidades que foram adquiridas ao longo da vida. Ou seja, assim que começarem as perdas cognitivas naturais do processo de envelhecimento, pessoas com uma maior RC terão mais informações para serem perdidas. Assim, os efeitos dessas perdas serão sentidos mais tardiamente do que para aquelas que têm RC menor".

O aprendizado, não só de outra língua, mas de qualquer habilidade, tem papel fundamental na manutenção da RC do nosso cérebro. Para o professor do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Cícero Galli Coimbra, "desde 1998 sabemos que o cérebro humano é capaz de, rotineiramente, produzir novos neurônios que substituem outros que são perdidos durante a vida. Os maiores moduladores da produção de novos neurônios são os estados emocionais (estresse é bloqueador a calma é facilitadora) e a utilização frequente das áreas do sistema nervoso onde queremos manter ativa a produção de células nervosas. O aprendizado de uma nova língua mobiliza a função de praticamente todos os recursos mais nobres (cognitivos) do cérebro e de outras partes do encéfalo, aumentando vigorosamente a população de células nervosas. Outros aprendizados seguem a mesma linha".

No entanto, não basta aprender uma nova habilidade se ela não for praticada. Cícero continua explicando que "é necessário manter a utilização da nova língua, pois, de outra forma, o sistema nervoso 'deleta' as células nervosas em desuso e a habilidade vai sendo perdida progressivamente". Andre Lima ainda completa dizendo que "estar com o cérebro constantemente em exercício faz com que o processo cognitivo seja trabalhado, mantendo-o ativo e retardando ainda mais a manifestação de uma demência, por exemplo. O melhor, então, é aprender e praticar sempre. Ouvir músicas, ler livros, ver filmes, palavras cruzadas e nenhuma restrição sobre qual língua escolher. Tudo isso ativa o cérebro".

O neurologista Cícero Coimbra ainda aconselha: "não rejeite as novas tecnologias à medida que elas surgem. Aprenda a usá-las e mantenha-se usando-as na resolução de seus problemas à medida que se defrontar com eles. Mantenha a mente ativa resolvendo problemas, sustentando-se como pessoa útil para o meio social onde vive. Faça com que seus amigos e familiares necessitem do seu auxílio. Não pare de resolver problemas onde que quer que se encontrem. Não fuja deles. Procure-os, trabalhando construtivamente para a solução deles, sempre com calma e tranquilidade. Manter-se útil e necessário, sustenta a autoestima, não sobrando lugar para a depressão, que é a maior bloqueadora da formação de novos neurônios”.


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