Estudantes
da terceira idade costumam frequentar aulas como ouvintes, mas em Frankfurt têm
um espaço só para eles e, com oferta de cursos similar à das faculdades
regulares, já são 3,5 mil alunos.
No
auditório cheio, saltam aos olhos os muitos cabelos grisalhos, óculos nos
rostos e uma ou outra careca. Nada surpreendente, já que os estudantes, nesse
caso, têm todos mais de 60 anos.
Enquanto
o professor fala, eles não ficam cochichando uns com os outros ou
digitando nos celulares. Pelo contrário, concentrados, ouvem e fazem anotações
sobre o tema da aula – a história do surgimento da filosofia ocidental.
Hartmut
Bratz frequenta regularmente, há mais de dez anos, as aulas da Universidade
de Frankfurt para a Terceira Idade (U3L). “Interesso-me, desde que me
aposentei, por aulas expositivas, principalmente sobre literatura e
Antiguidade”, diz o advogado de 74 anos, ex-funcionário de um banco.
Quando
ainda exercia a profissão, Bratz tinha pouco tempo para as artes.
O
mesmo acontece com outros colegas deles. Quando mais velhos, eles conseguem,
enfim, se dedicar a assuntos que sempre lhes interessaram, mas para os quais
tinham pouco ou nenhum tempo antes.
Departamento próprio
Na
Alemanha, não há, porém, um modelo unificado de graduação para idosos. O termo
“estudo na terceira idade” cobre diversos tipos de atividades acadêmicas
voltadas para os mais velhos nas universidades do país. Normalmente, os
estudantes da terceira idade costumam frequentar aulas como ouvintes, ao lado
dos jovens.
Para
ser ouvinte de uma universidade alemã, é preciso pagar uma taxa de
aproximadamente 100 euros por semestre, o que inclui a permissão para
frequentar diversas aulas expositivas. Não é necessário nem ao menos provar a
conclusão da vertente do ensino alemã que habilita o ingresso numa
universidade, pois normalmente o ouvinte não é submetido a qualquer tipo de
avaliação.
A
ideia de estudos universitários voltados para os mais velhos surgiu na Alemanha
há cerca de 30 anos, diz Silvia Dabo-Cruz, diretora da Universidade de
Frankfurt para a Terceira Idade.
“Naquela época, existiu um movimento rumo à abertura das universidades para adultos em idade mais avançada. E nós fomos uma das primeiras universidades a participar”, afirma.
Mas
a Universidade Johann Wolfgang
Goethe, de Frankfurt, oferece as graduações para idosos de maneira
distinta de outras escolas superiores na Alemanha, pois ali os estudantes
idosos dispõem de um departamento próprio.
A
U3L é organizada como uma associação, quase como uma universidade dentro da
universidade. Os professores de outros departamentos dão ali suas palestras, e
as ofertas são tão diversas quanto o leque de cadeiras da universidade regular.
Variedade
Num semestre, há até 120 eventos voltados para a terceira idade, que vão desde temas ligados à arqueologia, passando por anatomia clínica, até história da ciência. As aulas só podem ser frequentadas por idosos, cujas atividades são completamente separadas das dos jovens.
Num semestre, há até 120 eventos voltados para a terceira idade, que vão desde temas ligados à arqueologia, passando por anatomia clínica, até história da ciência. As aulas só podem ser frequentadas por idosos, cujas atividades são completamente separadas das dos jovens.
Isso
não funcionou, contudo, desde o início. No princípio, a Universidade de
Frankfurt havia criado uma forma mista: os idosos podiam frequentar as aulas
regulares dos diversos departamentos, embora já pudessem recorrer a
determinadas atividades voltadas apenas para eles.
Mas
a partir de 2005 foi introduzida na Universidade de Frankfurt essa
especificidade, através da qual os idosos só podem frequentar aulas voltadas
para eles. A direção da universidade quis dividir seus frequentadores entre
grupos de jovens e idosos, a fim de controlar a grande demanda. Hoje em dia, há
na Universidade de Frankfurt um total de 3.500 estudantes da terceira idade.
Críticas
A
diretora Silvia Dabo-Cruz não vê, contudo, apenas aspectos positivos nessa
segregação. Segundo ela, muitos professores reclamaram do fato de os mais
velhos terem deixado de frequentar as aulas ao lado dos jovens.
“Quando
uma pessoa mais velha, que morou anos na África, por exemplo, frequenta aulas
de Filologia Africana, sua presença só traz benefícios”, analisa.
Uma
crítica frequente às graduações de idosos é que eles poderiam estar tirando
lugares nas universidades dos jovens. Entre os estudantes regulares da
Universidade de Frankfurt, as opiniões se dividem, mas há os que acreditam nas
vantagens da companhia dos idosos.
“Para
nós, estudantes, a troca com os mais velhos pode ser interessante, pois eles
têm mais experiência de vida e podem abrir perspectivas para nós”, diz uma
estudante de Filologia Germânica.
Por
outro lado, não é todo estudante da terceira idade que quer se misturar com a
população jovem de um campus. Muitos deles preferem ficar entre si, como é o
caso de Brigitte Remi, de 67 anos: “Acho agradável frequentar a U3L, porque não
fico com a impressão de estar tirando lugar dos jovens. Aqui me sinto realmente
bem”.
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